quarta-feira, 16 de junho de 2010
Encruzilhadas...
Sónia era uma mulher amargurada. Trocaria todos os amores que tivera por um só: o amor da sua vida. Raquel trocaria o amor da sua vida por todos os amores de Sónia. Raquel era uma mulher única; especial.. e amada precisamente por isso. Mas entendeu que ser especial e única não lhe traria felicidade. Trocou-se pela partilha fútil do amor. Ganhou a diversidade e ficou amargurada como Sónia. Agora, que era banal, sonhava ser especial para alguém...
António gostava de Raquel, mas gostaria de encontrar alguém especial; alguém cuja intimidade fosse um privilégio seu. Raquel já não tinha privilégios na gaveta...esgotara-os no suor deixado na carne dos homens cujos nomes já esquecera.
Já Carlos não gostava de pessoas únicas e especiais. Queria a tranquilidade de quem, como ele, já navegara mares de emoções. Vulgares ou não. Carlos queria o mar calmo onde repousam os náufragos do amor. Queria Sónia...ou Raquel...que não o queriam por já se terem cruzado com ele, noutras vivências e corpos. Ambas desejavam António cujo mar era o de sempre...umas vezes tranquilo, outras mais agitado. Mas um mar único: o seu! Porto seguro.
Maria só queria ser feliz. Gostou de António, mas achou-o pouco experiente. Queria alguém vivido, como Carlos, que não a queria a ela...pouco experiente, como se amar fosse como conduzir um avião.
No fim, todos se encontraram numa terna solidão, lendo livros esotéricos e frequentando sessões de reiki...à procura do amor!
quarta-feira, 9 de junho de 2010
ruminâncias...
Todas as políticas apresentadas neste monótono pasto seco que é Portugal sabem a segundas digestões. Ao português comum não lhe é exigido um mero estômago forte para enfrentar a dureza de uma vida que só é assim porque se quer. É necessário mais: dois estômagos.
O português assemelha-se a uma vaca: paciente, faz ummm! quando se irrita (e é o máximo que faz). Tem um olhar meigo, apesar de passarem a vida a espremerem-lhe as tetas (homens, mulheres e bezerros), e até já finge ignorar as picadas das moscas. Às investidas dos touros tarados e dos veterinários que lhe escavacam a vagina (como se ela fosse uma cabra!), já nem liga.
No fim de satisfazer a todos, ostenta um ar triunfal e nobre, não percebendo que o destino é o matadouro.
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