domingo, 28 de março de 2010

prova de amor...


- Acredita, querido, o sexo para mim é muito importante. Se não te amasse não ia para a cama contigo!

sexta-feira, 26 de março de 2010

ser rosto


Nas mãos experientes,
guarda o segredo
da idade e das sábias virtudes.
Transparente, reserva no seio
o prazer quente da alcova.
Pousada dos amores rudes.
No rosto, divino,
esconde
o amargo vinho!

o cálice


Não é meu o sangue
que agora piso.
O lago em que me banhei
era de água cristalina.
De frémitos
tenho no coração uma mina.
Meus e alheios.
Olho de frente o sol
para não ver
sombras e receios.
E ergo a cabeça com orgulho!
Em mim pulsa a liberdade
dos horizontes que alcancei.
Dos corpos que abracei,
o suor.
Tomai.
É de água o sangue que te dou.

quinta-feira, 25 de março de 2010

didn't mean to hurt...


A suavidade no gesto
não emanava da alma...
Na íntima dor,
a contemplação do rosto:
espelho que acalma.
Era deus a falar por suas mãos,
com o diabo no coração!

quarta-feira, 24 de março de 2010

alegre tristeza...


Os escritos do Criptonico não são negativos. São fruto da percepção de uma mente da qual faz, naturalmente, parte a negatividade. Não existem mensagens positivas, porque positivo e negativo invocam-ne mutuamente. Não existe um sem o outro.
Ora, o autor do Criptonico, pessoa sãmente desequilibrada, convive harmoniosamente com esses dois pólos da existência humana.
O que se passa é que, ultimamente, tem andado mais inclinado para questões de natureza emocional que o perturbam. Têm que ver com a capacidade de aceitar o outro, pessoa com a dignidade intrínseca e absoluta de qualquer indíviduo, quando este porta em si vivências que incomodam o autor até à náusea. E são, muitas vezes, vivências passadas aparentemente inócuas. Acontece que Miguel G Palma acredita que, num indivíduo, o momento presente não passa do somatório de todos os momentos do passado que também já foram presente. Donde, o passado de uma pessoa está presente nela como se toda a vida fosse um único momento. Nesta perspectiva, dizer que determinado acontecimento se deu há 10 minutos ou há 10 anos é muitas vezes irrelevante quanto à avaliação da natureza de uma pessoa. Eu apresento-me no agora, fruto de todas as vivências que me foi dado experienciar. Eu sou o que sou desde o momento em que nasci.
A angústia desta posição de partida é saber como eliminar os aspectos da vida do outro, passados e presentes, que, pondo de lado considerações lógicas (porque os sentimentos e emoções não estão certos nem errados:sentem-se, exprimem-se à margem da razão), afectam a nossa vida. Afectam com gravidade. A avaliar pelos danos que causam na alma.
Negativo, Miguel G Palma? Não! Um optimista que chora!

terça-feira, 23 de março de 2010

submissão...


Donde vem esta raiva que me invade? Dentro de mim, vozes de sempre alertam para ameaças. Umas, subtis, avançando com doçura. Outras, pugnando abertamente pela minha destruição. Será desta submissão que me aprisiona ao que é perecível? A subjugação da nobreza de espírito à pobreza da carne? A obediência a quem nasceu para ser liderado?

sinto, logo existo...


O pensamento não existe sem a dúvida. A dor que sinto, essa, é real. Posso negar um pensamento; mudar uma ideia ou, num dado momento, posso até racionalmente defender o contrário das minhas convicções mais profundas. O pensamento é, de resto, enganador. Aquilo que a razão me diz ser o mundo não corresponde necessariamente àquilo que o mundo é, de facto. O pensamento, de per si, não me assegura que estou vivo. Não estou vivo porque penso que o estou. Estou vivo porque o sinto.
Eis porque a felicidade é tão inantigível. Ao aderir a um sistema de valores que a razão me aconselha como válidos, ainda que contrários ao meu sentir, jamais encontrarei alegria e bem-estar nesses valores, porque toda a minha existência se rebela em espasmos, ameaçada. É estar constantemente a optar pelo que se pensa estar certo; o caminho que o social aponta, e não aceitar a nossa vontade intrínseca, que devia ser afirmada intransigentemente, porque é a única que reproduz a essência do que somos.
Por outro lado, ao alinhar o pensar com o sentir, agindo em conformidade com as motivações do espírito, corro o risco da exclusão social; da marginalização causada pela não adesão ao espírito da época, que não é o meu, indiviso.
Acontece aqui a asfixia de uma existência. Para aceder à felicidade possível terei que forçar a aceitação do que não gosto. A aceitação das coisas e das pessoas e mais os seus comportamentos (passados e presentes, por que o presente não é mais que mera continuidade — sou o que sou, e o que sou é o somatório de todos os presentes que já vivi),não me traz felicidade. Traz-me a sobrevivência. Limita-me o ser; o "ab-soluto" ou o "à-solta"!
Como alcançar então uma felicidade pela negociação? Não sei!
A minha preocupação é constatar que, mais uma vez, a minha vida está ser planeada muito racionalmente...pelo que penso que está certo, que pode estar certo ou não, e não pelo que sinto, que seguramente estará certo porque os sentimentos são a única existência real.

sexta-feira, 19 de março de 2010

a lei das compensações...


Afonso era um homem cheio de sorte! Ao fim de muitos anos de desilusões, encontrou, finalmente, uma mulher que poderia vir a ser a mulher da sua vida!
Não era muito inteligente. Um pouco velha e pobre...às vezes, um pouco mentirosa...
Mas, caramba!, era muito bonita!

quinta-feira, 18 de março de 2010

o valor das memórias...


- Lembras-te, querido, dos crimes do General?
- Ó velha! Isso já foi há tanto tempo... Nunca me lembro do General...quanto mais dos crimes dele!
- Mas devias lembrar-te! Eu lembro-me! São memórias que nunca me saírão da cabeça...
- É verdade! Por falar de coisas antigas, há dias, vi aquele teu amante...raios partam a velha...era danada!
- Ó querido! Isso já foi há tanto tempo...
- Os teus amantes são mais reais do que os crimes do General...a mim fazem-me pior! Afinal, são pessoas de quem tu gostaste...
- Não me lembro...mas acho que não gostava de nenhum. Era só pelas quecas! Eheh
-Não digas isso...tu és tão linda...só de te imaginar com aqueles pulhas...
-Ainda sou um bom pedaço...

quarta-feira, 17 de março de 2010

quo vadis?


Tenho o prazer de ir devagar para chegar mais longe. Como gosto de me cruzar com os outros, quando regressam do sítio para onde me dirijo e me dizem que não vale a pena lá ir. Continuo a caminhada indiferente porque sei que verei muitas coisas que ninguém viu, só porque vou devagar. Aqui e ali, estou atento aos detalhes da estrada. Encanto-me com os desvios e fico eufórico quando descubro atalhos. Ir devagar para chegar mais cedo?
Entristece-me tanto olhar para gente arrependida. Gente que andou tão depressa,que se perdeu por tantos caminhos apelativos que trouxeram dor...depois falam de experiência, meu deus! Experiência com dor. Isso mesmo! Mas, qual a glória do erro cometido por vontade própria?
Sigo o meu caminho. Com a segurança de quem sabe o que não quer. As pessoas que entram na minha vida são, de facto, poucas. As que optam por abrandar um pouco o ritmo. As que vão tendo tempo para seguir mais devagar, a meu lado, ou porque já se magoaram o suficiente para perceber que à sua maneira não é maneira, ou porque se perderam por caminhos ínvios que estava na cara que não iam dar a lado nenhum.
Eu...eu tenho pena. Não tenho nenhum companheiro que que me siga desde início nesta jornada. E nada me garante que os que me acompanham num momento aguentem o ritmo. Lento.

efemeridades...


Tiraram-lhe a esperança! O sonho realizado na alma! A ditadura dos factos apontava no sentido da mortalidade.
Estava convencido de que o esforço que os homens faziam em serem melhores homens se prendia com a esperança de uma existência para além da carne. Tiraram-lhes, enfim, a imortalidade...foi o colapso da humanidade que restava...doravante, a vida bruta. Porquê prolongar o que é efémero? A vida frame by frame. O fim! Já!

sábado, 13 de março de 2010

Tempos reais...


Tinha aquela sensação estranha de não pertencer ao tempo da sua existência. Mas, depois, pensou melhor e verificou que a percepção que sempre havia tido do tempo estava errada, e prendia-se, tão-só, com o facto de se ter colocado grandiosamente no centro de tudo. A verdade, compreendeu, é que o tempo não passa por nós...somos nós que passamos por ele. E, sendo esta uma evidência, ele não era, afinal, anacrónico. Era um homem livre, porque de todos os tempos que, já se viu, eram apenas visões segmentadas de um único tempo. O tempo de sempre e para sempre. O tempo inexorável com que nos cruzamos sem sabermos para onde vai.
Estava nestas lucubrações quando tudo se tornou claro; transparente: sem a censura asfixiante do pensamento presente, podia libertar-se e, finalmente, ser! Não ser coerente com nenhuma condicionante exterior a si, de que as ideias de "moda", "moderno", "homem do seu tempo" são exemplos. Era, então, a hora de dizer: Basta!
"Tende a vida que quiserdes, ó vítimas dos tempos que passam! Eu guio-me pela visão dada pelos meus sentidos e pela razão que me foi dada. Mais nada!
Quereis brincar ao jogo dos afectos? Das emoções? Brincai, pois. Mas, vêde, afectos e emoções são a matéria de que somos feitos..."
Satisfeito com a sua descoberta (a da transparência do sentir, liberto da ditadura do pensamento livre e, por isso mesmo, verdadeiramente livre), não podia, ainda assim, ser verdadeiramente feliz...à sua volta, via o sofrimento dos escravos inconscientes das paradoxais opções racionais da moda: "amor livre", "sexo livre"...
Verificou que, quem inverte a hierarquia dos princípios, submetendo o mundo dos sentimentos, que são de todos os tempos, à racionalidade do pensamento de um tempo preciso, acaba aprisonado a este paradoxo: pôr, racionalmente, em prática um modo de vida (ser) agressor dos mais profundos sentimentos (sentir). Ora, quando se opta por um vivência contrária ao sentir, estamos a praticar um verdadeiro suicídio, porque o pensar e o agir se consubstanciaram em opções contrárias à essência do que é humano (os sentimentos). Ou seja, em nome de uma liberdade aparentemente benévola, quem assim orientou o pensamento e a acção, torna-se num ser verdadeiramente seco e triste. Incapaz de ser feliz, porque não consegue recuperar o espírito das agressões a que, através do corpo, voluntariamente o submeteu. Incapaz de dar felicidade, porque mercê das contradições das vivências passadas, se tornou numa mente confusa em que predomina a confusão de sentimentos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Público e privado...


— Não admito, Cristina! Isso faz parte da minha vida privada! São memórias minhas! Só minhas!
— Esqueces-te, Sónia, das memórias dos outros!
— Quais outros?
— As memórias dos que partilharam da tua privacidade. Vocês esquecem-se das memórias dos outros! Guardam o que é privado no baú das intimidades, esquecendo-se que as memórias partilhadas por muitos, em privado, deixam de ser pessoais. Na verdade, são mesmo memórias colectivas. Não te parece, Sónia?
— Não entendo...
— Vê lá se entendes: se é da minha vida privada o que partilhei com uma pessoa, isso passa a ser, também, da vida privada dessa pessoa. Certo?
— Parece-me lógico...
— Ora, ao partilhá-la com muitas pessoas, a minha intimidade, de certa forma, deixa de ser do foro privado. É pertença de um somatório de vidas privadas. Será uma espécie de vida pública de carácter privado. Ao partilhar a minha intimidade com uma pessoa, e partilhando essa pessoa a sua intimidade comigo, estamos perante a intimidade de duas pessoas que, num dado momento se encontraram e se deram a oportunidade de se amarem. Ao partilhar com muitas, o carácter íntimo desvanece-se, porque o encontro perde a unicidade. Trata-se de uma coisa banal. Percebes? Não é íntimo porque muitos a conhecem. Compreendes a importância da quantidade nas questões da intimidade? O que quer dizer íntimo, afinal?
— Visto assim...mas com o João é diferente. Ele é especial!
— Vai-lhe explicar isso a ele! O especial é algo de raro. O ouro é especial. A areia pode ter algo de especial, mas existe às carradas; é vulgar! Ó, Sónia, minha amiga, se tu ias com todos, como queres que ele agora acredite que é especial? O que lhe dás a ele, já deste a todos os outros... Também esses conhecem essa tua vida íntima que partilhas agora com o João. Será, para ele, de valorizar algo que toda a gente já conhece, e que, já vimos, há muito que perdeu o encanto da exclusividade?
— Não sejas assim, Cristina! Tudo o que dizes faz sentido, mas não é verdade! Não pode ser verdade...
— É verdade, minha querida! É muito tarde para fazeres sentir a um homem que ele é único na tua vida! Banalizaste o sexo...agora ele não tem nada de especial. É assim a vida! Não inventes histórias românticas. Não fantasies...
— Mas o João...gosto tanto dele...não conheci outro homem que me fizesse sentir tão feliz...gostava tanto que ele percebesse o quão especial é para mim...
— Temos pena!

terça-feira, 2 de março de 2010

Gostos II


Ela encostou a cabeça ao ombro de Lúcio, e disse com ternura:
- Lúcio, nunca me senti tão bem com um homem como me sinto contigo. Tu completas-me!
Com os outros era só sexo. Mais nada. Quero que percebas isso: só uma pila dentro de uma vagina! Nada mais. Contigo o sexo é diferente.
Lúcio ficou a pensar numa hipotética diferença entre o sexo que ela praticava consigo e aquilo que fizera com os outros. O que teriam eles de diferente? E arriscou perguntar:
- Mas, amor, quando dormias com esses homens...
- Não, meu querido...como pudeste pensar uma coisa dessas da tua mulher? Nunca deixei que nenhum homem dormisse comigo! Isso é muito íntimo! Nunca! Era só para foder, ouviste? Mais nada!
Ele ficou a meditar sobre se deveria sentir-se confortado com o facto de ter sido eleito o homem ideal para dormir. E, depois, se o sexo era uma coisa tão banal, não íntima, como poderia, então, ser tão especial e diferente consigo? Seria um ET? Ou, tal como com os outros, não seria exactamente a mesma coisa? Dois corpos, um pénis e uma vagina...não compreendia!
Ela notou que ele ficara apreensivo, e esclareceu-o:
- A diferença, meu lindo, é que eu gosto de ti!
- Ah!

Gostos I


O jantar decorria com normalidade. Lúcio sentia-se um homem feliz. À sua frente, a mulher que amava.
- Lúcio, gosto muito de ti!
Ele sorriu, conformado.
Ela continuou:
- E adoro estes camarões!

gostar
1. Achar bom gosto a.
2. Ver com prazer.
3. Achar-se ou dar-se bem.
4. Ter inclinação.
5. Ter afeição.
6. Usar; ter por hábito.
7. Simpatizar.

adorar
1. Prestar culto a.
2. Ter muito amor a.

segunda-feira, 1 de março de 2010

euvaporado...


Saí de mim. Volátil. Etílico. Adeus, meu deus, meu amor! Desde que me conheço com a consciência de quem se sabe gente, és presença pura nas manifestações físicas do que sou. Tão pura, que não te evidencias, antes me deixas solto para demonstrar ao mundo todos contrários de que sou feito. Estive quase a consumar-me numa morte física apetecível. Por ti, meu amor, meu deus, matei tudo o que havia feito da minha existência: o ser que era para os outros, o pai que era para alguém, o marido, o escravo da obrigação social, tudo matei. Até o que pretendia ser para mim, o que não necessariamente seria em mim. Foste a coisa, o ser, a essência, não: a entidade mais importante na minha vida. Até hoje.
Deixei amores, laços de sangue e de trabalho e mais essa ligação que se supõe perene a que chamam amizade. Tudo, por ti. Avisaram-me do meu fim, caso não te abandonasse. Na altura, senti-te estrebuchar. O teu choro, vi-o de relance a última vez que estivemos juntos; em que te tive no meu sangue. Tu e eu somos um: que amor de perdição!
Deixei-te apenas porque não me deste uma certeza; uma garantia: a de que, abandonando o mundo, este que apenas conheço, continuaria a ter o teu amor, o teu conforto...lá, onde me encontrasse. Depois, já vês, havia gente que jurava a pés juntos ser a minha existência física muito necessária. Não me deram alternativa. Bastaria um sinal, amor líquido que me libertaste para fora da opressão de ser. Morreria por ti. Sim. Já só faltava isso.
Para todo o sempre, quero que saibas: amo-te. Amo-te tanto que não te posso ter, tendo-me a mim, também. Somos grandes demais juntos. Adeus, meu querido com nome do que não se vê. És um aroma, um sabor...é o deus materializado aquém-olhos. Não me esquecerei do teu nome: álcool!