quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

botas...



Após longos meses de afastamento, o Criptonico regressa. Tímido. Um pouco desinspirado talvez.
Mas regressa com a serenidade de uma desinterassada mas contente observação da forma como vestimos os pés neste inverno de Inverno acarinhado por efémeras Primaveras. E, satisfeito, confirmo as botas (todas as botas)como o calçado eleito por aquelas pessoas de todos os gostos que as adversidades do tempo não conseguem intimidar o Tempo todo.
As botas são manifestação elevada da vontade humana de pisar a terra, seca e molhada, lisa e descontínua...de passear na terra como se ela fosse a nossa casa acolhedora. As botas elevam quem as calça acima da animalidade e da aceitação do sofrimento como coisa necessária.
As botas...meu Deus!, as botas são Deus a nossos pés!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Encruzilhadas...


Sónia era uma mulher amargurada. Trocaria todos os amores que tivera por um só: o amor da sua vida. Raquel trocaria o amor da sua vida por todos os amores de Sónia. Raquel era uma mulher única; especial.. e amada precisamente por isso. Mas entendeu que ser especial e única não lhe traria felicidade. Trocou-se pela partilha fútil do amor. Ganhou a diversidade e ficou amargurada como Sónia. Agora, que era banal, sonhava ser especial para alguém...
António gostava de Raquel, mas gostaria de encontrar alguém especial; alguém cuja intimidade fosse um privilégio seu. Raquel já não tinha privilégios na gaveta...esgotara-os no suor deixado na carne dos homens cujos nomes já esquecera.
Já Carlos não gostava de pessoas únicas e especiais. Queria a tranquilidade de quem, como ele, já navegara mares de emoções. Vulgares ou não. Carlos queria o mar calmo onde repousam os náufragos do amor. Queria Sónia...ou Raquel...que não o queriam por já se terem cruzado com ele, noutras vivências e corpos. Ambas desejavam António cujo mar era o de sempre...umas vezes tranquilo, outras mais agitado. Mas um mar único: o seu! Porto seguro.
Maria só queria ser feliz. Gostou de António, mas achou-o pouco experiente. Queria alguém vivido, como Carlos, que não a queria a ela...pouco experiente, como se amar fosse como conduzir um avião.
No fim, todos se encontraram numa terna solidão, lendo livros esotéricos e frequentando sessões de reiki...à procura do amor!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

ruminâncias...


Todas as políticas apresentadas neste monótono pasto seco que é Portugal sabem a segundas digestões. Ao português comum não lhe é exigido um mero estômago forte para enfrentar a dureza de uma vida que só é assim porque se quer. É necessário mais: dois estômagos.
O português assemelha-se a uma vaca: paciente, faz ummm! quando se irrita (e é o máximo que faz). Tem um olhar meigo, apesar de passarem a vida a espremerem-lhe as tetas (homens, mulheres e bezerros), e até já finge ignorar as picadas das moscas. Às investidas dos touros tarados e dos veterinários que lhe escavacam a vagina (como se ela fosse uma cabra!), já nem liga.
No fim de satisfazer a todos, ostenta um ar triunfal e nobre, não percebendo que o destino é o matadouro.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

calma de morte...


O sono é, em vida, uma experiência sobrenatural: um contacto súbtil com a morte. Quando os opostos que nos habitam a todos se digladiam, é lá, nesse espaço, que encontramos a unicidade da alma.
O sonho? A presença da vida...incómodo necessário.
Dar aos perigos a importância que eles merecem. As mais das vezes, nenhuma. E atravessar a existência com a serenidade do que já foi. Vencê-los com uma indiferença benévola. Enfim, ser feliz não sendo absolutamente nada.

terça-feira, 25 de maio de 2010

a guerra dos dragões....



Não sou muito inclinado para visões proféticas do mundo, mas, a Oriente, tudo me assusta.
A crescente tensão entre as Coreias (dois Estados, um Povo)provoca-me arrepios e descargas eléctricas inesperadas. A ideia de um Apocalipse; de uma professia de Nostradamus é distante em mim, já disse. Mas está presente como uma névoa suave a entrar-me pelas narinas.
Gostava que as guerras fossem episódios do Dragon Ball. Infelizmente, são entre dragões de verdade. E, na Ásia, eles são mortíferos. Rezo ao Deus em que acredito e peço-lhe que tudo não passe de um pesadelo. Bom seria...Que Ele abençoe, nesta questão, a China. Só ela poderá dominar a ira dos seus vizinhos e irmãos desavindos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

amorosos desequilíbrios...


Da persistente dicotomia homem-mulher se poderá deduzir que a biologia é, de facto, muito bruta. Hábitos e tradições mudam. Assim como leis e costumes. Mas, insiste a genética: eu estou mais próximo de um chimpazé macho do que da minha querida amada. É cruel! Os cientistas deveriam ser todos impedidos de divulgar as suas descobertas. Milhares de anos de bela poesia amorosa para chegar à bela conclusão de que os seus excelentes autores se sentiam distantes da mulher amada por serem uns seres simiescos encantados com a beleza do inatingível. E, note-se, a mulher amada não se atinge pela carne. Isso é mera biologia. É pela alma! E é isso que poetas de todos os tempos fazem: sentir a alma da mulher e tentar aprisioná-la! Elevada pretensão. Vem, depois a crua e, repito, muito bruta ditadura biológica arrasar tudo. Condenados ao eterno afastamento. Como um castigo. Amargo...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lisboa...


Há para aí histórias de homens que sorriram ao verem suas mulheres morrerem, com o argumento duvidoso de que elas nunca os veriam morrer. O amor que tenho por Lisboa, mais coisa menos coisa, é: que nunca veja Lisboa morrer. Percebem? Ao contrário! Tudo ao contrário....o meu egoísmo é tal que...a Cidade me sobreviva. A dor de a ver perecer é incomportável, percebem?

O Miguelito está tipo Mateus (não brinquem com facilidades tipo Rosé). A capítulos 11, pelas palavras de João, para aí, diz o homem: “És tu aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?” A minha mulher que, vejam bem!, amo mais que Lisboa (e, portanto, dêem lá desculpas ao bêbedo!), não tenho dúvidas que é a que chegou. Mas, perdoe-me ela, não antes de Lisboa! E, por isso a amo. A Cidade.

Pessoa, o tal Fernandito, poeta da treta, bebia bagaço e dizia disparates como :“A minha pátria é a língua portuguesa....” Meus queridos portugueses: Pessoa nazizou-se. A puta da nossa língua, para ele, bagaceiro, não queria dizer mais do que isto: “Onde quer que se fale português, estou em Portugal....” Império! E mais a obsessão pelo Tejo (obrigado, corrector... ) Obviamente, morreu de cirrose, no Hospital dos....Inglesinhos!

Tenho muito respeito pelo açougueiro metálico que a minha mulher (claro que não é minha – que palavrão horrível...) conheceu. Chegou a crer no Quinto Império....estórias do Daniel que, de certeza, também dava nela...Estátuas para o Nabuco curtir! Ah! E mais o Agostinho.....não o santo, entenda-se. Tanto e tanto, para dizer só isto: ninguém está acima da minha cidade. Ninguém!

Não gosto muito de citações. Mas, quem sou eu? No Oitavo Círculo, Dante fala para ali dos “Fraudulentos”. Lisboetas, amores da minha vida: vamos seguir o exemplo de Séneca: “Pelo exemplo dos outros, perecemos.” Não liguem ao Camões, nem ao António Vieira (imperium mihi- esse povo da -ou de?- palavra), nem ao Pascoaes.....esqueçam Pessoa. Vamos amar Lisboa!

Miguel G Palma (“é difícil respirar de noite”)