segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

amores razoáveis


Madalena estava apaixonada. Por um homem. Pretendia (fingia?) ter uma vida sem grandes perturbações. Meditava muito sobre o melhor modo de gerir a sua vida, de forma que, meditando tanto, não a vivia.
"Apaixonada?" Isto ia contra os seus planos. Sabia que guiar-se por paixões não era a forma mais segura de ter sucesso. Mas...fora surpreendida. Tinha sentimentos...Pensou, ainda, se surpresa não havia sido a sua vida até ao advento do que é humano, o sentir?
Não! Tinha de ser razoável! Aquela paixão não tinha futuro. Ainda iria sofrer muito por causa dessa cedência da carne. Ou dos nervos! Meu Deus! Como poderia um homem, um simples homem, destruir tudo aquilo em que acreditava? Não! Madalena era uma estóica genuína. Haveria de guiar-se sempre pela razão. As paixões são apatetadas. Verdadeiros alteradores naturais do humor. Ora extrema euforia, ora extrema dor. Não! Mais uma vez, não!
Surgiu-lhe, então, uma ideia. Racionalmente, sem se entregar ao devaneio das emoções, poderia entregar-se a um amor sensual. Não uma paixão. Um amor com método! Sim. De facto, não podia ignorar o facto de ter corpo. Se lhe desse um uso equilibrado, na exacta proporção da sua feminilidade, acrescentando em sedução o que retiraria em entrega, até haveria de ser proveitoso. Não experimentaria qualquer sofrimento. Haveria de provar que se podia crescer sem dor!
Bela fórmula! Madalena incorporou-a na pasta destinada ao capítulo das emoções.
Madalena sentiu o prazer de ser muitas vezes a primeira. Nunca o encanto de ser a última.

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